A primeira que pede a caipirinha dá o sinal. Água com gás é o cacete, o negócio é sério. Falam sobre todos os ex namorados desde que namorados começaram a existir. Ninguém ganha mais do que gostaria, ninguém terminou de pagar o carro, ninguém está como quer. E está tudo bem. Pensamos no exílio para pessoas que gostaríamos de esquecer. Todas tem algo escondido. Outra caipirinha. Se fosse um dia normal talvez usássemos vodka, mas precisamos de algo mais forte. Algo que no segundo copo nos saia naturalmente. Dizem que a mulher assusta quando vai embora. Chegamos a conclusão de que um futebol, uma onda perfeita, uma pescaria não nos basta. Precisamos de tanto que um dia enchemos o saco e fechamos a porta de casa sem aviso prévio. Nós temos pouco medo quando não estamos felizes. Pouco medo até de ficar sozinha, e ninguém espera por isso. A primeira dose de cachaça chega a mesa. A primeira menção honrosa a uma mãe que cobra. They fuck you up mom and dad, não temos idade para pensar em coisas sobre a maternidade, mas o emprego dos sonhos nos é cobrado diariamente pelo telefone. A infiltração no andar de baixo, a vontade obscura de assassinar a vizinha, a carência, a liquidação, a viagem dos sonhos, a solidão em paz, a solidão a dois, a solidão degustada. Tem de tudo. Já é tarde e não cruzamos mais as pernas. Sentamos-nos de qualquer jeito, esquecemos que paramos de fumar, fumamos muito e em um certo momento já falamos pouco. Amamos-nos assim visceralmente, "um outro chope daqui a um mês". Prometemos sermos mais céticas, mais duras, mais profissionais, pessoas melhores, acende um outro cigarro, fala do sonho com o analista, abre-se outra conta. Um conjunto de clichês sentado de forma bonita num domingo a noite. Já foi tudo dito e podemos dormir em paz. A conclusão final é que sempre falta alguma coisa, e nunca se tem tudo o que quer. Mas somos mulheres e já sabíamos. "Cargo difícil de agüentar". Outra caipirinha, por favor.
De: Mulherzinha
Boa.Boa.
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